quarta-feira, 8 de julho de 2009

Histórico de criação da Rede Social de Ceilândia

O primeiro passo na construção da Rede Social da Ceilândia ocorreu em fevereiro de 2008. O SERAV (Serviço de Atenção a Famílias em Situação de Violência) da Secretaria Psicossocial Judiciária do TJDFT, com equipe composta por assistentes sociais e psicólogos, que assessora aos magistrados dos Juizados Especiais Criminais da Ceilândia que atendem as mulheres em situação de violência (Lei Maria da Penha) realizou contatos telefônicos com pessoas de várias organizações públicas e privadas, ONGs, lideranças comunitárias para a um encontro no qual se discutisse a possibilidade de uma articulação em rede na Ceilândia. Por ser a articulação em redes um dos pilares do Programa Justiça Comunitária, de imediato houve adesão a esta iniciativa. Tal proposta teve como objetivos conectar pessoas que tinham interesse em promover ações conjuntas para prevenir e enfrentar a violência/violação de direitos contra crianças, adolescentes, mulheres e homens. O SERAV e o Programa Justiça Comunitária já vinham construindo parcerias em alguns trabalhos, destacando-se o Seminário de Violência contra a Mulher, no qual houve a participação de cem pessoas das cidades de Ceilândia e Taguatinga. A realização deste seminário permitiu que os agentes comunitários se instrumentalizassem quanto aos vários aspectos da Lei Maria da Penha para desempenharem suas atribuições de educadores para os direitos e para promoverem a animação de redes. Embora a experiência seja sempre infinitamente mais rica do que qualquer possibilidade de apropriação pelos discursos, buscar-se-á descrever a história da Rede Social da Ceilândia nesse seu primeiro ano de existência. A reunião inicial foi realizada em fevereiro de 2008 no Centro de Referência Especializado de Assistência Social, órgão da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do GDF. Dezessete pessoas deram o pontapé inicial no debate acerca da contribuição do trabalho em rede para o enfrentamento dos direitos violados que afetam diretamente os cidadãos da Ceilândia. Importante se faz salientar, que os profissionais do SERAV decidiram realizar essa primeira reunião em um espaço que não fosse o Fórum de Justiça pela representação social do mesmo, como espaço de poder formal e hierárquico. Outro intuito foi não passar a idéia de desejo de centralização, idéia contrária ao trabalho em rede. Segundo Franco (2008, p. 4): “Se uma organização hierárquica (como uma empresa ou uma organização da sociedade civil) estiver convencida de que precisa articular uma rede – até mesmo para iniciar a transição do seu padrão de organização centralizado para um padrão distribuído – a primeira providência é dar autonomia a um grupo de pessoas que vão se organizar em rede para começar a tentar articular a rede desejada.” Neste encontro, o tema conversado foi a possibilidade da construção de um trabalho em rede a fim de romper com as práticas isoladas e criar novas práticas que promovessem a emancipação. Segundo Sousa Santos (2007 apud FOLEY, 2003) as sociedades capitalistas produzem nas suas esferas de relações sociais formas de poder, de direito e de senso comum. Nessas esferas podem tanto acontecer relações de poder, como relações emancipatórias, tendo como base, para essa última, práticas sociais transformadoras. A partilha do poder, a democracia, a prática dos direitos humanos, as relações entre Estado e sociedade civil criam condições hábeis para o exercício da cidadania e de redução das desigualdades sociais. Por considerar que a construção de uma rede na comunidade é uma prática social transformadora muitos atores sociais têm aderido à Rede Social da Ceilândia. Esta adesão de diversos segmentos e a construção de diversas parcerias têm demonstrado que tal caminho é uma realidade possível e, nesse percurso, estão presentes: - Academia de Polícia Civil/ Polícia Comunitária; - Amigos da Paz; - Centro de Atenção Psicossocial/CAPS-AD Guará; - Casa o Cravo e a Rosa; - CEAV - Centro de Atendimento a Vitimas de Violência; - Central Judicial do Idoso; - Centro de Ensino Especial 2 de Ceilândia - Centro de Referência da Assistência Social - CRAS/Ceilândia; - Centro de Referência Especializado da Assistência Social CREAS/Ceilândia; - Centro Marista Circuito Jovem; - Centro Marista Circuito da Criança; - CESAM - Centro Salesiano do Menor; - COMPP - CAPSi - Conselho Tutelar de Ceilândia; - Conselho de Saúde de Ceilândia; - Diretoria Regional de Ensino da Ceilândia / Ouvidoria e Psicopedagógico; - Fraternidade Pobre Katar; - Hospital São Vicente de Paulo; - Hospital Regional da Ceilândia; - Líder Comunitária e Terapeuta Comunitária do Condomínio Novo Horizonte Marieta Soares; - Ministério Público da Ceilândia; - Movimento Integrado de Saúde Comunitária – MISMEC; - Movimento Pró Saúde Mental do DF; - Ocip – Ecoatitude – Ações Ambientais; - Ocip – Valor Ambiental; - Paróquia Nossa Senhora da Assunção; - Pastoral Social Paróquia Nossa Senhora da Assunção; - Programa Justiça Comunitária / TJDFT; - Programa “De volta para Casa”/ Secretaria de Saúde; - Secretaria de Saúde / Ceilândia; - Secretaria de Estado de Justiça de Direitos Humanos e Cidadania; - Serviço de Atendimento a Família em Situação de Violência – SERAV/ Secretaria Psicossocial Judiciária - SEPSI/ TJDFT; - Serviço de Atendimento ao Usuário de Substâncias Químicas – SERUQ/Secretaria Psicossocial Judiciária - SEPSI/ TJDFT. É preciso atualizar TODAS instituições/entidades Já na primeira reunião os participantes decidiram realizar mensalmente encontros da Rede Social da Ceilândia em diversas entidades da cidade, a fim de estabelecer uma constituição relacional de pessoas e contextos. Até o mês de janeiro de 2009, os encontros foram realizados nos seguintes locais: - A Casa O Cravo e A Rosa (Secretaria de Justiça e Cidadania), localizado na Ceilândia Centro; - Fórum da Ceilândia (TJDFT), localizado na Ceilândia Centro; - Circuito Jovem Marista, localizado no P Sul; - Igreja Evangélica, localizada no Condomínio Pôr do Sol; - Igreja Pentecostal ELIM, localizada no P Norte; - Paróquia Nossa Senhora da Assunção, localizada no P Sul (por duas vezes); - Centro de Ensino Médio 2 (Secretaria de Educação), localizado na Ceilândia Oeste; - Hospital Regional da Ceilândia (Secretaria de Saúde), Ceilândia Centro; - CESAM (Centro Salesiano do Menor), localizado na Ceilândia Norte; - Igreja Nossa Senhora Aparecida, P Sul; - Prefeitura do P SUL; - Centro Marista Circuito da Criança; Partindo do pressuposto que uma rede é um processo de captação, articulação e otimização de energias, recursos e competências, capaz de gerar um sistema de relacionamentos que organiza indivíduos e instituições de forma igualitária e democrática, em torno de um objetivo ou agenda comum de caráter público, ao longo dos encontros mensais, construiu-se como finalidades iniciais da Rede Social da Ceilândia: - Viabilizar a interação, a integração e a ação conjunta entre as distintas entidades e atores sociais; - Valorizar a participação social de diversos atores sociais; - Trocar experiências, compartilhar informações; - Possibilitar à comunidade maior conhecimento de seus direitos; - Garantir os direitos da comunidade; - Atuar como força política junto ao governo; - Criar parcerias; - Incorporar as lideranças na rede; - Fortalecer os movimentos sociais; - Incrementar a participação comunitária; - Apoiar a reinvenção da comunidade por meio do exercício de novas práticas que criem solidariedade. No decorrer dos encontros, as pessoas vão se conhecendo, combinando projetos, criando possibilidades de se articularem através das novas relações sociais autônomas e horizontais, gerando parcerias concretas de trabalho em redes flexíveis e inesgotáveis. Representantes da equipe multidisplinar, principalmente os assistentes sociais - pela ampla compreensão do significado do trabalho em rede - e alguns agentes comunitários do Programa Justiça Comunitária vêm participando de todos os encontros. Esta experiência possibilita que os agentes comunitários se integrem para interagir com diversos elos da Rede Social da Ceilândia e, assim, conhecer melhor os recursos, potencialidades e necessidades da própria cidade onde residem. Nesse primeiro ano, aconteceram várias parcerias: a participação de uma agente comunitária de justiça e cidadania no grupo de relações do SERAV (com o objetivo de divulgar a Justiça Comunitária e explicar a proposta de resolução pacífica de conflitos, através da mediação pelos agentes comunitários da própria comunidade); a implantação de um grupo de Terapia Comunitária, pela líder Comunitária Marieta Soares na Casa o Cravo e a Rosa para atender aos familiares dos jovens; a oferta de um espaço dentro da instituição Casa o Cravo e a Rosa para a instalação das atividades do CEAV – Centro de Atendimento a Vítimas de Violência; criação de um canal de comunicação entre o HRC e o Circuito Jovem Marista para viabilização de uma ação conjunta para acompanhamento médico das crianças e jovens atendidos pela entidade; atendimento conjunto de uma família em situação de miserabilidade pela Paróquia Nossa Senhora Assunção, CREAS e Conselho Tutelar; a disponibilização pelo MISMEC (Movimento Integrado de Saúde Comunitária) de quatro bolsas para a formação de agentes comunitárias de justiça e cidadania em Terapia Comunitária (a formação em Terapia Comunitária favorece a animação da rede social da Ceilândia, pois os agentes comunitários são efetivamente membros da comunidade. O quê beneficia a eles próprios beneficia a comunidade, gerando empoderamento e coesão social); as assistentes sociais da Divisão Regional de Saúde de Ceilândia propuseram uma discussão para que o grupo de teatro do Programa Justiça Comunitária faça esquetes sobre direitos - idosos, crianças, saúde – para apresentação nos centros de saúde e hospitais; etc.

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