quarta-feira, 25 de novembro de 2009
20/11/2009 Gestão social colhe frutos na Saúde
Especialista aponta amadurecimento de novos modelos para o setor
Não é novidade que o diagnóstico para grande parte dos três mil hospitais públicos em funcionamento hoje no país continua desanimador. Mas nem só de péssimas notícias vive a administração do sistema público de saúde no Brasil - escolhido como tema desta semana pelos leitores que debatem os principais problemas do país no site da campanha "Nós e você, já são dois gritando" (www.oglobo.com.br/dosigritando), do GLOBO.
Na tentativa de modernizar seus serviços, o setor público já atesta o sucesso de alguns modelos de gestão alternativos e descentralizados, com resultados animadores. A constatação é do pesquisador brasileiro Bernard Couttolenc, doutor em Economia da Saúde pela Universidade Johns Hopkins, nos EUA, que ano passado apresentou os resultados de uma pesquisa encomendada pelo Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (Bird) mostrando que o principal problema dos nossos hospitais não é nem falta nem desvio de verba, como sempre se presumiu, mas apenas má gestão. Quando divulgou sua pesquisa Bernard mostrou, por exemplo, que os hospitais públicos brasileiros usavam o dobro de funcionários por leito, em comparação com os americanos e europeus. Hoje, mais cientes dessas dificuldades, algumas unidades aqui começam a colher frutos da aplicação de gerenciamentos regidos por metas e indicadores, diferente do que tradicionalmente se vê na administração hospitalar brasileira.
Um dos bons exemplos, segundo Bernard, está em São Paulo e ocorre com as Organizações Sociais de Saúde (OSS), entidades sem fins lucrativos contratadas para administrar alguns hospitais do estado, num modelo de gestão que envolve técnicos da secretaria estadual de Saúde, do Conselho Estadual de Saúde e do Tribunal de Contas do Estado.
Comparações entre essa iniciativa e outras mais tradicionais mostram que os hospitais operados pelas OSS atendem 25% mais pacientes, a um custo anual 10% menor.
- O modelo garantiu maior autonomia na administração pública e maior flexibilidade para gerenciar os recursos disponíveis. Tanto que o número de instituições regidas por esse sistema só cresce.
Em 2003, quando a experiência começou, existiam apenas doze organizações em operação no Estado de São Paulo.
Hoje esse número subiu para 25, um aumento superior a 100% - constata Bernard.
Maior emergência de Niterói está fechada há seis meses Apesar dos bons exemplos, o que ainda grassa no setor são os casos escabrosos. Um deles pode ser constatado na outrora maior e mais importante emergência pública de Niterói, no Estado do Rio. A emergência do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), fechou provisoriamente em maio, por conta de um surto de infecção provocado por bactérias. Na ocasião, a direção da unidade transferiu os pacientes e liberou o atendimento apenas para os casos de extrema complexidade, encaminhados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Além disso, os responsáveis pelo hospital deram início a uma série de obras nas instalações, com vistas à pronta reabertura da emergência. Hoje, mais de seis meses depois, ainda não há previsão para a reabertura definitiva do setor.
Na verdade, o problema no Hospital Antônio Pedro ganhou proporções ainda mais sérias depois que se constatou que o setor operava com mais do dobro de sua capacidade.
E a raiz do problema, mais uma vez, pode não ter sido a mera escassez de leitos, e sim a má gestão do sistema de saúde como um todo.
- O problema é que hospitais como o nosso muitas vezes ficam sobrecarregados com procedimentos de baixa urgência e complexidade, que a princípio não deveriam ser feitos ali. É preciso investir em prevenção e em postos de atendimento nas comunidades para desafogar o sistema - diz o diretor médico do Antônio Pedro, Haberlandh Sodré Lima, repetindo uma fórmula antiga mas que parece rara até hoje no Estado do Rio.
Em fórum do GLOBO, descrédito e denúncias Os internautas que participam do fórum de discussão no site apontam que condições precárias de funcionamento não são exclusividade do hospital universitário de Niterói.
Muitos depoimentos, em tom de indignação, são assinados por quem testemunhou situações desumanas de atendimento e até por profissionais de saúde inconformados com o cenário atual. "No Hospital do Fundão, no Rio, o quadro é de abandono. Leitos enferrujam em enfermarias desativadas, elevadores enguiçam constantemente e os pacientes idosos ficam sem água quente no chuveiro.
Falta roupa de cama e há até aparelhos de Raio-X quebrados", relata o leitor José Maurício Moreira Carvalho, 55 anos, morador de Bangu.
Já o médico Luis Guilherme Santos, também de Niterói, reclama da eterna desvalorização dos profissionais de saúde.
"O salário de um médico no estado gira em torno de mil e trezentos reais. Se eu atendo 130 pessoas por mês no ambulatório, recebo R$ 10 por paciente.
Sua vida vale R$ 10?", questiona ele
Autor: Gustavo Autran
Fonte: O Globo
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